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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Meu Brasil... Brasileiro?

 A existência de realidades que chocam nem sempre são suficientes para proporcionarem o choque de realidade que de fato precisamos ter, somente sentindo na pele sua aspereza é que somos capazes de compreender que um dia será preciso sair da zona de conforto e irmos em direção à zona de confronto.
O dia 10 de Abril de 2012 talvez fique marcado na história, não do Brasil, mas de povos que têm na base de suas conquistas lutas inacabáveis com o poder de uma nação construída com sangue e a custa de entraves políticos que devoram o humanitarismo, atropela valores e forma bases que pendem em sua balança na qual separa, seleciona e exclui. Talvez seja, porém, essa data memorável  traduzida de forma disforme e se torne motivo de fantasiosas reproduções como o próprio dia 19 de Abril.
Pensando em sobre o que escrever não pude deixar de ceder e deixar-me levar pela revolta em minhas veias, pois, em meio a uma multidão, onde de uma lado tínhamos indígenas trajados em suas vestes, carregando no ombro uma história de lutas antepassadas, no canto um clamor por respeito a direitos institucionalizados, nos pés a dança que marca o passo cansado de quem só consegue algo por meio de pedidos desesperados e humilhantes. Do outro lado, parte de uma sociedade revoltada, presas em seus veículos, blindadas pelos “achismos” de quem ainda acredita que nós, indígenas, ainda somos os culpados pelo fracasso do Brasil. E, em meio a toda essa controvérsia, representantes da segurança pública tentando assegurar que em algum momento a ira poderia se inflamar e então a ação poderia se concretizar. Quem afinal é mais brasileiro? Quem, meu Brasil, é mais brasileiro?
Fico me perguntando, até quando, até quando meu Deus?
A história do Brasil está mesclada pelo uso abusivo das versões. Quem conta seu conto aumenta seu ponto, aumenta também suas vírgulas e suas reticências... O que me provoca, no entanto, e me evoca a escrever é por reconhecer que faço parte de um Povo, de uma sociedade, e desse país chamado Brasil e, que nos genes da minha própria história, tem resquícios de uma desigualdade gritante que faz dos direitos meros escritos, pois, uma vez que não são respeitados e precisam ser exigidos e mesmo, mendigados, tornam-se criações soltas.
Sou obrigada a pensar em mim, ser social, ser Pataxó, ser brasileiro... No meu país e suas leis, nos direitos humanos que nos garantem IGUALDADE, LIBERDADE E FRATERNIDADE.
Ah, meu Brasil, meu Brasil brasileiro... Quem pintou sua bandeira com cores tão alegres esqueceu-se de mantê-las vivas, pintaram-se também de rubro as guerras que não cessam, de cinza as esperanças outrora verdes, de incolor as nossas leis, pois, parecem não serem vistas. No esboço de nossa história, pintaram-se de cores as peles e os valores promovendo diferenças que colocam barreiras e entraves entre povos de uma mesma nação, brasileiros que se dividem e dividem o país entre os que lutam e os que se conformam, os que clamam e os que se calam, os que mandam e os que obedecem, os que criam as leis e os que as descumprem... Linhas fronteiriças que fazem desse Brasil, um país de vastas possibilidades e de poucas certezas. Ah, esse meu Brasil... Será mesmo um Brasil brasileiro??
ADRIANA PESCA

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